segunda-feira, 10 de junho de 2013

Desejo


DESEJO E ANGUSTIA  

1. Definições:
 Dicionário - ânsia, angustia.

2. O DESEJO NA FILOSOFIA
O desejo é objeto de muitas abordagens. A filosofia sempre consagrou ao tema páginas fundamentais. 
O desejo funda o homem, mas é necessário renunciar a ele para trabalhar e viver em sociedade. O desejo pauta o consumo, a publicidade, a competição e as relações amorosas. 
desejo (do lat. desiderare: aspirar a, desejar) 
De modo geral, podemos definir o desejo como uma tendência espontânea, consciente. orientada para um objetivo concebido ou imaginado.
No sentido filosófico, o desejo, como a linguagem, é uma tendência especificamente humana, distinta da simples necessidade. Assim, o Eros platônico enfatiza o objeto "sobrenatural" do desejo, o amor dos belos corpos levando a alma a elevar-se ao amor do bem inteligível.
 Em Descartes, "a paixão do desejo é uma agitação da alma causada pelos espíritos animais que a dispõem a querer para o futuro aquilo que ela se apresenta ser conveniente. Assim, não desejamos somente a presença do bem ausente, mas também a conservação do presente". 
Segundo Hegel. a verdadeira finalidade do desejo não é o objeto sensível, mas a unidade da subjetividade consigo mesma, unidade procurada através do reconhecimento de um outro desejo. 

3.CONCEITOS:
"Não é pela satisfação dos desejos que se obtém a liberdade, mas pela destruição do desejo" (Epicteto). 
"O desejo é a essência mesma do homem, isto é, o esforço pelo qual o homem se esforça para perseverar em seu ser" (Spinoza). 
"O desejo é a autodeterminação do poder de um sujeito pela representação de um fato futuro" (Kant).

4. ORIGEM:
Segundo Marilena Chaui,  "A palavra desejo tem bela origem. Deriva-se do verbo desidero que, por sua vez, deriva-se do substantivo sidus (mais usado no plural, sidera), significando a figura formada por um conjunto de estrelas, isto é constelações. 
Porque se diz dos astros, sidera é empregado como palavra de louvor—o alto—e, na teologia astral ou astrologia, é usado para indicar a influéncia dos astros sobre o destino humano, donde sideratus, siderado: atingindo ou fulminado por um astro. 
De sidera, vem considerare—examinar com cuidado, respeito e veneração—e desiderare—cessar de olhar (os astros), deixar de ver (os astros).... 
Desiderare, ao contrário, é estar despojado desta referência, abandonar o alto ou por ele ser abandonado. Cessando de olhar para os astros, desiderium é a decisão de tomar nosso destino em nossas próprias mãos, aquilo que os gregos chamavam bóulesis. Deixando de ver os astros, porém, desiderium significa uma perda, privação do saber sobre o destino, queda na roda da fortuna incerta. 
O desejo chama-se, então, carência, vazio que tende para fora de si em busca de preenchimento."

5. O DESEJO EM FREUD
O desejo que Freud nomeia é enigmático, e se diferencia da necessidade, que pode se satisfazer num objeto adequado. Como é sabido, o desejo é de outro registro para a psicanálise. Ele aparece mascarado nos sintomas, sonhos e fantasias, que são signos de percepção pelos quais uma experiência de prazer ou desprazer tem sido memorizada no aparelho psíquico sob a forma de traços mnémicos. 
Quando se procura o objeto na realidade, a procura é a partir desses traços, objeto que remete a algo perdido desde o início, mas que deixa uma inscrição. Isto determina a dimensão do impossível para a psicanálise; um impossível lógico.
Podemos entender assim a definição que Freud dá na Interpretação dos Sonhos: "desejo é o impulso de recuperar a perda da primeira experiência de satisfação". Esta primeira experiência de satisfação é de ordem mítica, indicando esse lugar de perda como fundamento, ou como causa, da fala no homem, marcando assim a relação de este ser vivo homem, com a estrutura da linguagem. 
O desejo comporta um lugar de perda que determina um campo de tensão. 

Nesse sentido não é adaptativo, não é simplesmente homeostático e por isso não corresponde só ao principio do prazer. Seu correlato é uma ruptura desse principio que se chama na psicanálise, pulsão. Freud a nomeia pulsão de morte, como além do principio do prazer. Isto é diferente da morte biológica. Desejo e pulsão são as duas vertentes do sujeito que determinam a sua realidade psíquica como diferente da homeostase orgânica. Produz-se uma fragmentação que, paradoxalmente, sustenta a função da vida. 

A renúncia progressiva dos instintos parece ser um dos fundamentos do desenvolvimento da civilização humana.


Lutei toda a minha vida contra a tendência ao devaneio, sempre sem jamais deixar que ele me levasse até as últimas águas. Mas o esforço de nadar contra a doce corrente tira parte de minha força vital. E, se lutando contra o devaneio, ganho no domínio da ação, perco interiormente uma coisa muito suave de ser e que nada substitui. Mas um dia hei de ir, sem me importar para onde o ir me levará.

(Clarisse Lispector, "Aprendendo a viver", 2004)