sexta-feira, 23 de agosto de 2013

O gozo da mulher

" O gozo da mulher é maior que o do homem"
            Lacan, Seminário da Angústia, pg 203


Em psicanálise costumamos dizer que há um mal entendido estrutural nas relações entre homens e mulheres. O que não significa que o amor não possa vir permitir que o gozo consinta o desejo e essa tese lacaniana se sustenta na invenção do amor como um fato cultural.

O problema é que cada vez que nos aproximamos da realização de desejo, surge a angústia, pelo laço desejo/lei no já conhecido Complexo de Édipo.

O que é interessante no que Lacan aponta nesse seminário, é que "a mulher revela-se superior no campo do gozo, uma vez que seu vínculo com o nó do desejo é mais frouxo". Nesse momento Lacan está abordando como são mais livres as mulheres na profissão de psicanalistas:  a posição feminina teria mais flexibilidade para sustentar o lugar de objeto que lhes é designado pelos pacientes e foram elas as que "disseram coisas sensatas sobre a contratransferência".

Na verdade, o que ele indica são as múltiplas possibilidades que a mulher tem de se relacionar com o desejo e também o porque dela se angustiar mais que os homens. Ele brinca com essa posição feminina da mulher se apresentar como um vaso - cheio ou vazio? - que aparentemente pode presentificar o objeto causa do desejo e isso ser uma boa posição para ocupar o lugar de analista na clínica.

Já a angústia do homem estaria ligada ao "não poder", daí que o objeto seria a condição de seu desejo e por isso o mito de que a mulher seria uma de suas costelas, esse objeto perdido. A mulher, para o homem seria essa costela que lhe foi retirada e por isso o masoquismo feminino é uma fantasia masculina.

Deixando de lado homens e mulheres e as provocantes afirmações de Lacan, que mesmo em em 1980 continua falando das mulheres como melhores analistas, o que ele ensina além disso é de como podemos aprender sobre o intransponível do feminino, já acentuado por Freud como um impasse aos analistas.


segunda-feira, 12 de agosto de 2013

SHAME FCL Fortaleza




Sábado, dia 17 de agosto estaremos nas Formações Clínicas do Campo Lacaniano em Fortaleza, debatendo o filme SHAME.

Trata-se de um filme bem dirigido por Steve McQueen e com atuações exatas de Michael Fassbender e Carey Mulligan. O interesse da psicanálise pelo filme é que ele demonstra no personagem de Brandon, o excesso, a busca desesperada por uma resposta ao trauma infantil, que em alguns momentos nem respiramos, quase sentindo a melancolia e o vazio do personagem. Brandon não responde ao olhar sedutor da mulher que se oferece, ele não sorri ou oferece qualquer sinal de um fisgamento do laço social, mas intui, tal qual um animal no cio, a possibilidade do sexo. Ou seja, viciado em sexo, ele dedica-se com afinco e presteza à busca de sua presa, ao mesmo tempo em que se masturba, paga prostitutas e vê sites pornográficos calculadamente e obsessivamente, numa repetição desmedida.Toda a trama se desdobra quando sua irmã aparece, tão machucada quanto Brandon, mas de uma fragilidade extrema - ou seja, de onde havia somente excesso, a falta impõe outro rearranjo para os vínculos afetivos.Magistral a sutileza de McQueen e do diretor de fotografia Sean Bobbitt que enquadra o sexo em pequenos detalhes de pedaços de corpo: braços, pernas, boca, nunca uma mulher inteira. Nisso são muito felizes em nos mostrar o que a clínica psicanalítica nos ensina.
Assistir passivamente o percurso de Brandon e de sua irmã a um arremedo de laço amoroso, que possa enfim barrar a vontade de gozo é uma experiência que coloca  Shame como IMPAR na cinematografia.
E se tudo isso não bastasse, a música “New York, New York”, sussurrada como um lamento, um grito angustiado e ao mesmo tempo conformado com o mais triste da condição humana, já valeria o ingresso!