terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Que mais que tu quer?


O DESEJO NA PSICANÁLISE

O desejo na psicanálise é o tema pelo qual nos debruçamos sobre o debate no FORUM Aracaju que vai durar até o Encontro Nacional de BH.
O desejo é um x, um enigma, uma ânsia, diferente da necessidade, que pode se satisfazer num determinado objeto. Segundo Freud, o desejo aparece disfarçado nos sintomas, sonhos, atos falhos, inscritos por uma experiência de prazer ou desprazer e que foi memorizada no aparelho psíquico sob a forma de traços mnémicos. 
O sujeito procura o objeto na sua realidade e sua busca se dá partir desses traços, mas a referencia é a um objeto perdido que deixa uma inscrição: "desejo é o impulso de recuperar a perda da primeira experiência de satisfação"resume Freud. Essa é a dimensão do impossível lógico donde se sustenta a teoria psicanalítica.

Marilena Chaui, em Laços do desejo, faz um comentário precioso sobre a palavra desejo: "A palavra desejo tem bela origem. Deriva-se do verbo desidero que, por sua vez, deriva-se do substantivo sidus (mais usado no plural, sidera), significando a figura formada por um conjunto de estrelas, isto é constelações. Porque se diz dos astros, sidera é empregado como palavra de louvor—o alto—e, na teologia astral ou astrologia, é usado para indicar a influência dos astros sobre o destino humano, donde sideratus, siderado: atingindo ou fulminado por um astro. De sidera, vem considerare—examinar com cuidado, respeito e veneração—e desiderare—cessar de olhar (os astros), deixar de ver (os astros).... 

Desiderare, ao contrário, é estar despojado desta referência, abandonar o alto ou por ele ser abandonado. Cessando de olhar para os astros, desiderium é a decisão de tomar nosso destino em nossas próprias mãos, aquilo que os gregos chamavam bóulesis. Deixando de ver os astros, porém, desiderium significa uma perda, privação do saber sobre o destino, queda na roda da fortuna incerta. O desejo chama-se, então, carência, vazio que tende para fora de si em busca de preenchimento."


Mas quem se aproxima da fórmula que Lacan extraiu de Hegel: o desejo humano é o desejo do Outro foi o compositor  Zeca Baleiro, na música Semba:

   que mais que tu quer
   nada te contenta
   nem ouro, nem prata
   cafuné nem tapa
   que mais que tu quer
   se tu quer nós troca

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

A psicanálise e a midia

Temos visto na mídia, inclusive no Programa Fantástico, num quadro de Drauzio Varela, menos informação e orientação e mais polemicas em que se afirma que a psicanálise foi superada pelo progresso medico e das terapias cognitivas.

Sabemos que foi um resultado da segunda guerra a revolução dos psicotrópicos e neurolépticos  que, usados nos casos de psicose, permitiu a estabilização, embora associado a tratamentos pela palavra e principalmente integrando o psicótico no meio social.

 No entanto essa abordagem tripla custa muito caro aos governos e secretarias de saúde. Dai onde se aposta todas as cartas na terapia cognitiva, que freia os sintomas com tratamentos curtos e baratos, mas sem nenhuma eficácia terapêutica sobre a formação dos sintomas, como analisaria o velho e saudoso Freud.

Roudinesco, reconhecida historiadora da psicanálise, se pergunta: por que tanto ódio a psicanálise? Por que tantas tentativas de desqualificar os analistas em ataques incessantes? Desde sempre a psicanálise tem enfrentado seus revezes:
Ciência judia, alcunha nazista;
Ciência burguesa, pelos stalinistas;
Ciência satânica, pelos fundamentalistas;
Falsa ciência, pelos cientificistas...enfim, será que devemos nos calar?

Assistir a mídia deteriorar os conceitos psicanalíticos  por falta de pesquisa ou pela incapacidade de assumir que a psicanálise recusa o antissemitismo,  a violência contra os homossexuais, a segregação e a posição dura contra os pedófilos e cínicos que não se responsabilizam pelos seus atos...
A psicanálise acolhe a histeria  que desvia o corpo da procriação - a neurose obsessiva, liberando de sua "maquina" de pensar e principalmente, oferece uma escuta dos psicóticos dando uma voz ao marginalizado pela sociedade, por não serem ativos na produção de bens.

Há de se reconhecer que a psicanálise faz a vida coletiva avançar em suas mazelas mais duras sem expor o sujeito e, ao mesmo tempo, sem deixar de responsabiliza-lo em seus atos.

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Drogas e felicidade


Em "A Civilização do Espetáculo" Vargas Llosa comenta sobre a massificação do uso de drogas, antes "privilegio" de uma elite e de setores marginalizados ou boêmios. Atualmente o uso de drogas não tem qualquer vinculo com a exploração de novas sensações ou para fins de percepção artística, ou mesmo como rebeldia ao sistema.
Nos nossos dias, ele diz, o uso abusivo da droga tem a ver com a busca de prazeres rápidos e fáceis, que imunize o usuário de sua responsabilidade social, fuga do vazio, da angustia do viver, ou mesmo fuga da realidade e das escolhas que vão dirigir o futuro.
Pergunto:
Pra que enfrentar dramas e desafios da condição humana? Pra que se perguntar sobre a morte, a existência, as notícias de Mali ou da crise espanhola?
A droga empresta uma liberdade que beira a bestialidade...deixamos de ser humanos para sermos apenas felizes com altas doses de entorpecente.

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

o desejo, desde Freud

Detachment


"E nunca me senti tão profundo e ao mesmo tempo tão alheio de mim e tão presente no mundo"....
Albert Camus


esse é o mote do filme: O substituto ( ou Indiferença) O filme mais marcante dos últimos tempos sobre o papel dos pais e professores no futuro de uma geração. O professor não é, como sempre ocorre nos filmes americanos, o salvador de seus alunos, tocando no coração deles e modificando sua maneira de pensar...pelo contrário, no filme Detachment (2012) é um choque, um real que aparece sem disfarces: a escola cada vez mais perversa com um sistema educacional que homogeniza e desqualifica as habilidades individuais e políticas destinadas a cumprir as metas do capitalismo.

Nano, grata pelo filme, filho!!!!
Foto: "E nunca me senti tão profundo e ao mesmo tempo tão alheio de mim e tão presente no mundo"....
Albert Camus

 esse é o mote do filme: O substituto ( ou Indiferença)  O filme mais marcante dos últimos tempos sobre o papel dos pais e professores no futuro de uma geração. O professor não é, como sempre ocorre nos filmes americanos, o salvador de seus alunos, tocando no coração deles e modificando sua maneira de pensar...pelo contrário, no filme Detachment (2012) é um choque, um real que aparece sem disfarces: a escola cada vez mais perversa com um sistema educacional que homogeniza e desqualifica as habilidades individuais e políticas destinadas a cumprir as metas do capitalismo.
 
Nano, grata pelo filme, filho!!!!