quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Lista de ano novo: um amor novo

            
Resoluções do ano novo: um novo amor
                                                     Alba Abreu Lima
“Quando damos as mãos, somos um barco feito de oceano, a agitar-se sobre as ondas, mas ancorado ao oceano pelo próprio oceano”.
José Luis Peixoto
               

Nas listinhas de fim de ano escutamos que as pessoas querem um amor novo ou um novo modo de se relacionar com o parceiro amoroso. Metas para cumprir, um mapa traçado de como a vida poderia ser mais prazerosa, incluindo um parceiro perfeito! O problema é que o ano passa, a lista fica e no ano seguinte repete-se tudo de novo com a esperança de que os desejos possam ser atendidos. Esquecemos que nossas escolhas são determinadas como desígnios que tem relação com o inconsciente e por vezes nos culpamos por não termos cumprido nossas boas intenções!
Na psicanálise, o tema da escolha amorosa provoca debates intermináveis e o começo de tudo está um pouquinho distante, nas nossas primeiras escolhas amorosas e o modo como nos constituímos em relação a uma falta que é de estrutura.
 Freud considera que a ciência não pode se abster de se ocupar das condições necessárias ao amor que determinam a escolha de objeto feita pelas pessoas. Ele aponta o amor como o investimento do Eu no objeto. Ele afirma na Quarta Lição:
 “É absolutamente normal e inevitável que a criança faça dos pais o objeto da primeira escolha amorosa. Porém a libido não permanece fixa neste primeiro objeto: posteriormente o tomará apenas como modelo, passando dele para pessoas estranhas, na ocasião da escolha definitiva”.
Todas as relações amorosas passam pelo modo de articulação psíquica que Freud chamou de complexo de Édipo. Todos os amores seriam aparelhados, abalizados e apoiados (Anlehnung) na organização das pulsões, que nada a ver com a teoria psicológica desenvolvimentista. A teoria da constituição do sujeito tem por fundamento a noção de desejo (falta), e se estrutura a partir do estudo da linguagem e de seus efeitos no ser humano.
        Em 1932, Freud admite um dualismo numa carta a Einstein:
 “De acordo com nossa hipótese, as pulsões humanas são de apenas dois tipos: aquelas que tendem a preservar e a unir — que denominamos ‘eróticas’, exatamente no mesmo sentido em que Platão usa a palavra ‘Eros’ em seu Symposium, ou ‘sexuais’, com uma deliberada ampliação da concepção popular de ‘sexualidade’ —; e aquelas que tendem a destruir e matar, as quais agrupamos como pulsão agressiva ou destrutiva”.
Em 1937, em "Análise terminável e interminável", Freud avança na fusão de Eros e tânatus:
 "Sei muito bem que a teoria dualista que pretende instaurar uma pulsão de morte, de destruição ou de agressão como parceira legítima ao lado de Eros, manifestando-se na libido, encontrou de maneira geral pouco eco, e não chegou a se impor verdadeiramente, mesmo entre os psicanalistas" (1937).

Portanto, a pulsão agressiva e a pulsão de vida estariam legitimamente unidas e esse é o complicador dos impulsos humanos! Nossos desejos são regidos por esse amálgama Eros/tanatus e muitas vezes aparentemente o que mais desejaríamos seria, no fundo do coração, o que gostaríamos que estivesse bem longe de nós!
Em geral, quando falamos vida amorosa, designamos ao mesmo tempo três termos - amor, desejo e gozo - que Lacan diferencia quando afirma no Seminário X: “o amor é o que permite ao desejo que conceda o gozo”. O amor estaria com a responsabilidade de fazer a concessão, de suprir a relação sexual que não se pode escrever. O amor se apóia no encontro faltoso do sujeito com a sexualidade, tentando anular a falta original do desejo, esteio da insatisfação.
 Podemos verificar que o amor se distingue do gozo porque o amor é uma defesa contra a castração e a pulsão. Como observa C. Soler, o amor é impotente, enganador e mentiroso. É impotente porque não recobre a falha do sujeito e não cura a castração; enganador porque promete ser o que falta, mas não cumpre; mentiroso na medida em que pretende o “bem” do outro - "No amor se quer o próprio bem, não o bem do outro", diz Lacan.
        O amor se revela aos amantes como ilusão para presentificar uma aparência de encontro entre o amor feminino e masculino, tornando suportável a dessimetria.
        Meus votos é que em nossas listas de ano novo possamos, além de sonhar com um novo amor ou uma nova forma de amar, colocar metas possíveis:
·        Cuidar da saúde;
·        Participar de um projeto cidadão;
·        Ter consciência dos próprios limites para não sobrecarregar demais o corpo e a mente;
·        Trabalhar no que gosta ou buscar uma fonte de prazer numa tarefa alternativa;
·        Partilhar alegria de viver com os amigos;
·        Agir conforme o desejo, de preferência, revelado numa psicanálise, se for o caso.
                             E que venha 2013!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

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