sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Dinheiro não traz felicidade






Qual o caminho para encontrar a felicidade???
  • Em primeiro lugar, a felicidade só se alcança quando se percorre algo;
  • Depois, esse caminho não está pronto, ele deve pode ser construído, diferentemente do que a mídia prega sobre felicidade instantânea;
  • E em terceiro, a felicidade é singular, particular segundo a história de cada sujeito e seu desejo.
Todos nós nascemos marcados por um desejo que nos torna sujeitos de nossa história. A família é a estrutura determinante dessa imersão no mundo da linguagem e dos afetos. Viver em família é custoso e significa ter que desafiar as experiências do mundo comparando-as com os ensinamentos transmitidos por gerações. Tarefa duríssima e que, sem um amplo espaço afetivo interior, nos torna infelizes e sem a ferramenta fundamental para subsistir no mundo: o narcisismo.

FELICIDADE X LIBERDADE
A promessa de um caminho para a felicidade é um tema que muito nos interessa, pois antes de identificá-la com o gozo pleno, temos de pensar na sua justa repartição, o que coloca em jogo os impasses da civilização.
Desde nossos antepassados gregos, a cultura humana se estrutura a partir de um princípio regulador que limita e interdita as transgressões. Mesmo o cristianismo, fundado na crença monoteísta do mesmo deus de Akenaton (antes se adorava todos os deuses), instituiu o pecado original e o discernimento moral para as relações entre os homens.
Seguindo essa mesma linha, as idéias iluministas, embora baseadas no avanço do cientificismo e na educação, prometiam a felicidade, desde que os homens respeitassem a lei e a moral. O projeto iluminista, embora tenha retirado o homem do misticismo da Idade Média, não conseguiu diluir o mal estar. Todas as expectativas do iluminismo, no enlaçamento da felicidade com o progresso civilizatório, foram esvaziadas pelo crescente efeito desumanizador do discurso da ciência, pois assim como foi descoberta a penicilina, alta tecnologia de guerra está hoje disponível nas prateleiras.
Há uma parte dos sofrimentos humanos que continua indizível e por isso, Freud adverte: o sujeito busca a felicidade na quietude. Inclusive para alguns, a felicidade seria uma certa ignorãncia, um não querer saber do sofrimento dos outros.

A tão propagada ‘depressão’, nada mais é do que um diagnóstico moderno para a tristeza e impossibilidade do sujeito aceder à felicidade instantânea, tão propagada pela mídia, dos “prosacs e viagras”.
O mandamento contemporâneo é: seja feliz a qualquer preço! ou: o dinheiro traz felicidade!
Dinheiro não traz felicidade!!! Convivemos atualmente com o progresso alucinante desse discurso da ciência, que oferece fórmulas, explicações matemáticas e por outro lado, a acentuação do ódio, da segregação e a guerra.
Giannetti, em seu excelente livro Felicidade, articula brilhantemente economia e filosofia num diálogo sobre a civilização moderna, que estaria trazendo progresso material, mas não o "bem-estar subjetivo", ao retirar a espontaneidade das relações afetivas.
Ele analisa o crescimento econômico em sua relação com o bem estar subjetivo e curiosamente, afirma, que essa correlação só se torna possível se existe uma ‘renda psíquica’. Ou seja, podemos inferir então que a felicidade não depende do desempenho econômico.
A renda econômica não garante a renda psíquica, nem a saúde mental ou física, pelo contrário, muitas vezes corrobora para que o sujeito fique isolado, com medo de dividir seus bens materiais - não sabendo que eles representam também seu bens afetivos.
 Gianetti afirma: “Entre as crenças que povoavam a imaginação e a visão de futuro iluminista, uma em particular revelou-se problemática: a noção de que os avanços da ciência, da técnica e da razão teriam o dom não só de melhorar as condições objetivas da vida, mas atenderiam aos anseios de felicidade, bem estar subjetivo e realização existencial dos homens”.
Ele aponta que o maior desafio das próximas gerações será o de demonstrar como as liberdades individuais obtidas no século XXI poderão ser compatíveis com a preservação do planeta e como será possível ajustar os níveis de bem estar subjetivo. Teremos mais guerras, violência e segregação? Destruiremos as fontes de sobrevivência da espécie?

O amor como metáfora da felicidade
 Apenas os humanos querem ou podem ser felizes, isso indica que a felicidade é pulsional e, portanto, metaforizável. Isso eqüivale dizer que no amor, eventualmente, podemos construir um projeto de felicidade, que não tem nada a ver com a renda econômica.
Ninguém melhor do que o poeta sabe dizer da felicidade:
Tristeza não tem fim
Felicidade sim.
A felicidade é como a gota
de orvalho numa pétala de flor
Brilha tranqüila
Depois de leve oscila
E cai como uma lágrima de amor.
- Tom Jobim e Vinícius de Morais
O amor é o outro nome da felicidade quando juntos dois parceiros podem repartir as conquista e os fracassos. Os filhos podem surgir dessa mistura. Porém, ninguém deve ser obrigado a uma sobrecarga emocional que o filho proporciona: um filho só deve ser gerado quando se deseja assumir a condição paterna como felicidade, um feliz encontro. Os nossos filhos sempre são melhores do que os filhos dos outros, até porque, estaríamos colocando nossa incapacidade de educá-los quando elogiamos mais o filho do vizinho.

Poderia a psicanálise prometer a felicidade?
Um século depois da descoberta freudiana, a psicanálise, embora duramente atacada pelos diversos campos de saber sobre o que aflige o sujeito, continua demonstrando que seu discurso não é feito de ilusão, pois indica que o sujeito deve conhecer seu desejo.
O sujeito quando demanda uma análise e institui um Outro como lugar de resposta espera uma garantia de autentificação do seu sintoma e dá significações, interpretações esperando esse “selo de garantia”. O sintoma é uma mensagem dirigida a alguém que não tem condições de decifrar.
A manifestação transferencial reduz o analista a um “decifrador”, intérprete de seu mal estar sintomático e o sujeito tem acesso ao desvelamento da significação escondida no sintoma.
Somente aos poucos, o sujeito vai tendo acesso à sua verdade, aos tropeços, auxiliado em suas quedas pelo analista, sempre presente e pontuando seu discurso. É como se ele pudesse encontrar o manual de como foi fabricado e que tinha sido perdido nos nós da vida.
Se a felicidade é condição humana, conhecer a mensagem cifrada no sintoma é a aposta da psicanálise para que cada um possa encontrar a direção possível do seu desejo, pela ética do bem dizer.
Poderíamos então dizer que a felicidade depende de como o sujeito pode traçar seu destino e não do quanto ele pode guardar ou gastar em moeda, pois cada um gasta sua renda econômica de acordo com o que aprende do funcionamento mental e acumule uma renda psíquica para as futuras gerações.
                                    Alba Abreu Lima

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