terça-feira, 4 de dezembro de 2012

persistindo o médico, consulte os sintomas

“Persistindo o médico, consulte os sintomas”. A frase de Tom Zé demonstra como as consultas aos médicos podem engordar o sintoma de gozo e o sujeito acaba se harmonizando com as significações oferecidas ao seu sintoma. Persistindo o médico, como bem sabe dizer o poeta, pergunte ao sintoma. A direção da clínica psicanalítica é dada pelo sujeito e sua pergunta sobre o sintoma, que, muitas vezes, não é correlativa à doença diagnosticada pelo médico. Nem sempre a psicanálise oferece soluções apaziguadoras, nem sentidos curativos, pois o sofrimento do sintoma é o indicativo de que a resposta da fantasia fracassou na tarefa de alinhavar a divisão subjetiva. Diante da fratura exposta pela vacilação da fantasia, surge a angústia e o questionamento do desejo. A condição de uma análise só é possível diante da necessidade do sujeito em desconhecer o mal que o acomete e sua impossibilidade em se adequar às significações estabelecidas pelos médicos. Diante dessa contingência, o sintoma em sua face de sofrimento, emagrecido e diluído de sua satisfação, travado na repetição, dirige sua questão sintomática a um Outro, exigindo um alívio da angústia. Entretanto, esse questionamento e a resposta do analista dependem da importância que ele reputa à linguagem como causa do sujeito, na medida em que o sujeito é uma função do significante e conseqüentemente, ser de linguagem. Por isso o analista espera uma desconstrução das significações que o sujeito atribuiu a seu sintoma, para, sem julgamento de valor, escutar algo com o recurso da associação livre, sobre o enigma do desejo que se materializou naquele sintoma. É o que Lacan denominou de efeito da histerização do discurso, ou seja, de onde se persistia a busca por uma decifração médica, surge um sujeito decifrador na análise, daquele sentido obscuro do sintoma, a partir de um trabalho sob transferência. Na persistência do sintoma, Lacan (aula de 18/11/75) sentencia: a única arma que temos contra o sintoma é o equívoco. Ou seja, é somente pelo equívoco que pode operar a interpretação do analista se quer abordar o sujeito do desejo. Alba Abreu

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